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O amor não tem as mãos sujas de sangue.

segunda-feira, abril 15, 2013
Mulher é morta por "crime passional".

Ela manteve um relacionamento com um homem que pensava que a possuía. Esse homem escondia sua possessão entregando flores. Início de relacionamento é sempre só amores, não é? O problema nunca é o início do relacionamento. Essa mulher amou um homem que a tratava como um mero objeto. Um objeto coberto, pois criticava cada peça de roupa que a mulher escolhia, fazia-a trocar a vestimenta até estar devidamente "adequada". Tudo começou a ser percebido por pequenas ações (com grandes significados, mas o mundo parecia querer viver de olhos fechados). Ele sempre deu ênfase no "minha" e esqueceu da parte do "mulher". Na verdade, ele deu sua própria interpretação para a palavra "mulher". Na visão dele, do mundo pequeno, machista e sexista que estava infiltrado, mulher era o sub ser humano que tinha como função servi-lo. Servi-lo de sexo, servi-lo de comida, servi-lo do que ele desejasse. Para ele, sua esposa, não era mais do que uma coadjuvante do casamento. E o casamento nada mais era do que uma forma de manter a relação que tinha na casa dos pais: uma mulher servindo os "machos da casa". Depois de um tempo, nos raros momentos em que frequentava as ruas de sua cidade, a mulher aparece com um hematoma. Escorregou, caiu da escada, tropeçou numa pedra, bateu a cara na parede. Várias justificativas que, obviamente, não eram verdadeiras. Os sinais que, antes, eram sutis, agora estão gritantes. Aquela mulher, oprimida, possuída, maltratada, humilhada, agredida, gritava por ajuda - e o mundo, dessa vez, colocava fones de ouvido para não escutar os gritos.

Em casos, o homem nem ao menos tem uma relação com a mulher, mas a imagina e acredita fielmente que essa mulher tem, sim, uma dívida e uma obrigação com ele.

E a mulher que deveria ser livre, está presa dentro de uma casa quase em cárcere privado (quase?). A mulher, que deveria ser dona de suas ações, já não é mais dona nem de sua vida. Suas escolhas não existem. Ela não tem o direito de querer. O marido chega bêbado e a estupra constantemente. O marido se enxerga no direito de abusar de todas as formas da esposa. Afinal, ele é quem manda, não é? Não é assim que tem que ser?

Então, o que seria esse sentimento que ele sente por sua esposa?
É o sentimento de possessão, o sentimento de que essa mulher pertence a ele e ele, por ser seu marido, tem todo o direito de fazer o que bem entender com essa mulher... Inclusive matá-la.

Esse sentimento não é amor,
então não é crime passional.

Não existe crime cometido por amor, mas sim crime cometido por um sentimento de que o outro tem uma obrigação para com você. Não existe crime cometido por amor, mas sim um crime cometido por alguém que nem ao menos sabe o que é amar. O crime passional é uma farsa.

(É considerado passional, o crime que envolve paixão. Paixão é um sentimento levado ao extremo. Na maioria das vezes que "crime passional" aparece na mídia é para identificar uma violência doméstica. Amor ao extremo nunca será motivo para crime. Então, isso não é amor)

(A história acima pode sim ter seu papel invertido. Homens também são vítimas dos chamados "crimes passionais". Porém, é incontestável que as mulheres são as maiores vítimas)

Levou meu coração e nunca mais voltou.

domingo, março 31, 2013
Isso não é um texto sobre o que foi amor.
Certa vez li que isso seria "arrumar o quarto do filho que já morreu".


É olhar para o lado e não encontrar.
É olhar pra trás e ver que está distante.

É a ausência de um abraço,
um apelo por um aconchego.

É aprender a conjugar os verbos no passado.
Como se fala mesmo quando algo ainda vai acontecer?
Esqueci.

É ter que fechar os olhos para enxergar.
Olhos abertos já não captam nada.

É aquela blusa velha, suja, rasgada que você não abre mão.
Um cordão que não sai do pescoço.

Uma frase melancólica escrita e reescrita em todas as agendas.
Sem destinatário.

É escutar Tim Maia,
Zeca Pagodinho.

É o colarinho da cerveja.
Agora só bebo sem essa espuma branca.

É questionar a fé, a igreja, o médico, o amor.
Cadê? Quem me roubou?

E, pra mim, é aquela velha disputa vasco e flamengo.
Isso não é sobre o que foi amor.
É sobre o que sempre será amor.
É sobre a saudade.

Eu sou um direito humano.

quinta-feira, março 21, 2013
Eu sou muitas coisas e deixo de ser várias todos os dias. 

Eu sou branca, negra, índia, oriental. 
Eu sou hétero, bissexual, homossexual.
Eu sou católica, umbandista, budista, ateia. 
Eu sou feminista, humanista, humana. 

Eu sou da tolerância, do respeito, da diversidade.
E não me envergonho de ter várias faces, vários jeitos, vários rostos, vários tipos. 
Sou uma diferente a cada dia.
Em cada dia eu adoto um ser diferente.

Eu me orgulho de conseguir ser diferente.
Eu me orgulho de respeitar quem é ainda mais diferente.
Eu sou muitas coisas, sou muitos dias, sou muitas vidas. 
Eu sou muitas vontades, muitos desejos, muitos sonhos.
Eu sou alguns tropeços, muitos erros, muitos pedidos de desculpas.
Eu sou uma incerteza sem fim, talvez termine, talvez perdure. 
Eu sou mortal, eu sou humana.

Dizem que eu sou mulher, mas vai que, em algum universo paralelo, eu seja um homem.
Vai que eu seja transsexual. Vai que eu seja um animal. 
Irracional. 

Eu poderia ser tantas coisas que nem sei direito o que eu sou.
Eu poderia ser respeitada, mas parece que estamos nos afastando disso.
Eu poderia ser livre, mas parece que andam querendo cortar minhas asas. 
Eu poderia ser só amor, mas ando recebendo pancadas de ódio.

Só que, de tudo o que sou, algumas coisas eu nunca seria.
Eu nunca serei um "câncer gay".
Eu nunca serei uma "amaldiçoada". 
Eu nunca serei uma "aberração". 
Eu não fiz a "escolha" da minha sexualidade.
Eu não tive o "azar" da minha cor. 
Eu não estou "atrapalhando a constituição da família".
Eu não sou machista, homofóbica e racista. 

Eu não sou essa piada do "Direitos Humanos"
Eu não sou Marco Feliciano
E Marco Feliciano não me representa
(e nunca representará nenhuma das milhares de coisas que posso ser)

Eu não me respeito.

terça-feira, março 12, 2013
Uma das primeiras coisas que aprendi, ainda quando era criança, era que eu precisava respeitar os outros. Minha mãe me ensinou que eu precisava respeitar a todos, pois era um dever meu como cidadã que mora em comunidade. Eu não moro isolada, moro no meio de um grupo com pessoas completamente distintas de mim, então deveria respeitar essas diferenças e a singularidade de cada ser.

Pois bem, respeito é a base uma relação. Qualquer relação, não somente os relacionamentos amorosos e as amizades, como as relações que criamos com pessoas que mal trocamos meia dúzia de palavras. Eu respeito o seu modo de vida e você respeita o meu.

Eu sempre fiquei incomodada quando alguém chegava para mim e falava que mulher tinha que se dar ao respeito, que só assim poderia ser respeitada pelos outros. Eu nunca soube que o respeito era circunstancial.  O que sempre foi do meu conhecimento era que eu tinha que respeitar os outros e que todos tinham que me respeitar. Era a regra, a norma, a forma de viver bem. Nunca tive a pretensão de que todos concordassem comigo e também sempre soube que eu iria discordar da maioria. Só que ali existiria o respeito para que todas as opiniões fossem devidamente expostas e todos os pontos de vista muito bem analisados.

Então, tentaram fazer com que eu acreditasse que só iria ser respeitada se eu mesma me desse respeito. Logo eu que sempre gritei que não me dava ao respeito. Eu! Só que continuar afirmando isso era ser menosprezada, criticada, julgada por todos na rua. "Olha a roupa dela, não se dá ao respeito!"; "Olha como ela fala palavrão, não se dá ao respeito!"; "Olha esse cabelo colorido, não se dá ao respeito!"; "Olha como troca de namorado, não se dá ao respeito!"; "Olha, fica nessa putaria de um dia namora um homem, no outro dia namora uma mulher. Não se dá ao respeito!". E foi me desrespeitando que eu aprendi que não deveria me respeitar.

Não quero me respeitar se, para isso, eu tenha que abdicar da minha essência. Não quero me dar ao respeito se isso significa mudar as roupas que eu gosto, controlar os meus afetos, podar meus pensamentos, reeducar minha linguagem. Eu não quero modificar o que sou para que os outros passem a me respeitar. Eu não quero respeito, eu EXIJO respeito. Se eu respeito os outros, exijo ser respeitada. Eu não quero ser respeitada com uma roupa que todos usam e com uma conduta "aceitável". Eu quero ser respeitada pelo o que eu sou, mesmo que isso vá de encontro com o que a sociedade vê como "normal". Eu exijo ser respeitada não para que eu entre nos moldes, mas para que as pessoas consigam enxergar a pluralidade da vida humana.

Então, mesmo que eu saiba todas as interpretações que isso pode causar, eu sempre irei repetir que eu não me dou ao respeito. Por que o respeito é que deve ser dado a mim, pois sou humana, pois sou única, pois sou diferente e, mesmo assim, semelhante. E eu respeito o meu próximo.


Ao infinito e eterno além

sábado, março 09, 2013
Por um dia das mulheres que nunca termine.
Se ontem nós recebemos flores, o que recebemos hoje?

O dia da mulher, teoricamente, já passou. Só que eu não aceito para mim somente um dia. Não aceito um dia feito para mim, embora entenda sua complexidade e seu significado. Aceito, até, uma data para comemorarmos, mas não uma data para que me respeitem. Eu quero um dia das mulheres sem fim, que comece hoje e termine nunca!

Cartaz em homenagem ao dia das mulheres nas paredes da UFF

Há quem leve a namorada em um restaurante caro para comemorar o dia das mulheres. Outros compram flores para as amigas, colegas de trabalho e professoras. Alguns ainda perdem o tempo fazendo piadas sem graça e machistas em redes sociais e mesas de bar. 

Eu, mulher, não quero um restaurante caro, uma rosa, uma piada. Eu, mulher, não quero um dia para mim. Esse dia é para as outras. É para as mulheres que morreram lutando por suas vontades, que foram mortas naquela fábrica. O dia das mulheres não é para a mídia falar que "fazemos as unhas e a diferença". Não é para ficar ouvindo que "os outros dias são dos homens". 

Eu, mulher, quero respeito no dia das mulheres, mas também quero respeito em todos os outros dias. Eu, mulher, não quero ser lembrada e enxergada somente no "meu" dia. Não quero que doem esse dia a mim. Afinal, o dia é posse de quem para poderem me doar dessa maneira? Sou dona dos meus próprios dias e sou sujeito deles. Sou protagonista, não figurante que ganhou um dia comemorativo. 

Não quero ser lembrada por fazer as unhas e a diferença. Não quero ser lembrada como "costela do homem". Não quero ser lembrada como "a esposa de fulano". Eu sou além disso, mais que isso. Não sou "algo de alguém", sou toda minha. Faço parte das vidas dos outros, mas tomo conta da minha. 

Então, que o dia das mulheres não seja de presentes e agrados. O que desejo é que no dia das mulheres não haja uma única mulher que apanhe, que não haja mulheres morrendo, mulheres sendo estupradas. Que não haja mulheres sendo podadas de trabalhar com algumas profissões. Que não haja mulheres morrendo em abortos clandestinos. Que não haja mulheres trans sendo chamadas de "ele". Que não haja preconceito e diferenciação entre mulheres cis e trans. Que não haja violência contra a mulher. Que não haja esteriótipos de gênero. Que não haja "sexo frágil". Eu quero que, no dia das mulheres, todas as mulheres sejam livres. Livres para trabalhar com o que quiserem, livres para usar a roupa que quiserem. Livres para entenderem que a vítima de estupro é sempre VÍTIMA! Livres para serem felizes, se divertirem. Livres para casar, livres para terem filhos. Livres para serem solteiras, livres para não terem filhos. Livres para adotar. Livres para amar. Livres para serem heterossexual, homossexual, bissexual, assexual. Livres. Livres. Livres.

Eu quero que esse dia das mulheres comece hoje e não termine nunca mais! 

Temporada das tintas.

segunda-feira, março 04, 2013
Existe uma grande preparação por trás do vestibular. É uma dedicação completa. Não são só mais horas de estudo, como um preparo físico para enfrentar as muitas horas de prova. Tem que aprender a controlar o tempo e o nervosismo. A maior parte dos participantes do vestibular são adolescentes. Jovens com intermináveis sonhos na cabeça, com planos pra vida que está apenas começando. Não dizem que a felicidade começa na faculdade? É na faculdade que você começa a estudar o que gosta e começa a ganhar sua independência.

Então, você passa no vestibular. O curso que você tanto sonhou e em uma das maiores faculdades do país. Você vai estudar em uma universidade federal e começa a imaginar que todos os seus sonhos estão encaminhados para virarem realidade. Só que não são sonhos normais. Não são sonhos utópicos. Você mereceu que o seu nome estivesse naquela lista. Você lutou por um sonho e o conquistou. Nada foi entregue a você sem um custo.

Só que tem gente que acha que pode abusar de você pois chegou naquela universidade antes. Então, você que estudou e se esforçou para entrar na faculdade, tem que encarar um trote humilhante. Todos os anos vemos brevemente pelos noticiários a notícia de que alguma coisa deu errado em um trote. Calouros que se feriram, calouros que foram humilhados, calouros que morreram. Você, que batalhou para conseguir a matrícula na faculdade, tem que "pagar um preço" para ser aceito.

"Você não é obrigado a participar do trote". Ok. Não é obrigado, mas é uma cultura tão forte essa de que todos os calouros devem ser submissos aos seus veteranos, que a pessoa que se nega a participar dessa "tradição" é vista como antissocial e excluída pelos seus colegas de faculdade. Quem está cursando uma faculdade sabe como é complicado seguir em frente com os estudos sem amizades. Não consigo me imaginar indo todos os dias para Niterói se não tivesse amigos.

Então, mesmo que ninguém pegue o calouro pelo braço (embora eu ache que isso aconteça às vezes) e o obrigue a participar do trote, não quer dizer que o trote seja facultativo.

E como agora começou a temporada das tintas, o tempo do medo começa igualmente. Posso garantir que as garotas que foram aprovadas na USP de São Carlos não sabiam o que as esperavam quando acordaram para o primeiro dia de aula na faculdade. Elas não acordaram naquele dia e resolveram que iriam ser "bixetes" e iriam sorrir para todas as humilhações que estavam prontas para sofrer. Ninguém está pronto para isso. E quando um grupo de mulheres vai protestar em prol dessas meninas, são agredidas por um grupo de jovens que se acham melhor do que os outros por que entraram na faculdade antes, por que são veteranos.

Eu não acho que a solução seja proibir o trote. Os crimes cometidos nesses trotes já são proibidos e isso não impediu que fossem cometidos. Matar, torturar, ferir. É tudo crime, tudo proibido e mesmo assim continua a acontecer durante os trotes. O que deve ser feito é uma punição mais severa para esses todo-poderosos-veteranos. Os garotos que ficaram pelados e agrediram as protestantes feministas, os veteranos que causaram a morte do calouro de medicina há alguns anos e todos os que apoiam e fazem parte desse tipo de "iniciação" na faculdade devem ser punidos. Devem responder por tais atos perante a lei e essa lei deve ser cumprida. Só quando o trote humilhante, perigoso e violento for devidamente punido é que vai haver conscientização.

A questão é que existe essa cultura que diz que quem está há mais tempo na faculdade tem todo o direito de maltratar os novatos. Há essa cultura de que eles podem fazer o que fazem, então eles não se vêem como errados. Eles não se enxergam como os criminosos que são. O que precisa mudar é essa ideia de que o trote não é obrigatório e as pessoas só são humilhadas, machucadas e mortas por que permitiram serem tratadas dessa maneira. Há uma pressão para que você participe do trote e um medo de dizer que não quer fazer tal coisa.

Não temos que culpar as meninas que desfilam como "bixetes" e tiram as roupas e depois ficam reclamando que foram humilhadas. Elas foram humilhadas, não há o que discutir. Nomeá-las "bixetes" já é humilhá-las, rebaixá-las. O que deve ser feito é transformar essa cultura dos trotes. Não tenho nada contra a parte do trote de se pintar e ir pegar dinheiro para a festa. Sou contra a parte da cota que faz com que os calouros tenham muitas vezes que pegar dinheiro do próprio bolso para bancar uma chopada.

Eu tive a sorte de ter um trote consciente. Meus veteranos só pintaram quem queria ser pintado, nós só respondemos as perguntas que queríamos responder. Não há pressão alguma com quem não quis participar da brincadeira feita no primeiro dia de aula.

Eu sou contra o trote que aconteceu na USP de São Carlos esse ano.
Eu sou contra o trote que humilha, maltrata, machuca e mata.


Eu sou Eliza Samudio.

Finalmente começou o julgamento do Bruno. Bem, pra começar a falar sobre o assunto, não irei me referir a ele como "goleiro Bruno" ou "Bruno do Flamengo". Não foi o time de futebol que cometeu o crime ou a profissão dele que o incentivou a realizar tal ato. Foi ele. Bruno Fernandes de Souza. Não essa imagem que a mídia criou, não esse excelente atleta que os fãs fazem questão de lembrar. Quando alguém rouba, ninguém está ligando se esse ladrão é um ótimo artesão. Quando alguém mata, ninguém está ligando se essa pessoa tem uma voz de anjo. Então, por que nesse caso as pessoas estão adorando separar o Bruno-assassino do Bruno-goleiro? É a mesma pessoa e eu não consigo separar essas duas linhas.

Esse crime é um pouco diferente dos outros pois se trata de um grande nome do futebol brasileiro. E mesmo que não queiram aceitar, o futebol é a alienação do Brasil. Oscar Pistorius matou a esposa e todos os comentários que vi foram de indignação. Ela era linda e não merecia ter uma vida destruída dessa maneira. Ele até era um bom atleta, mas como pode realizar tal ato? Com o Bruno é diferente. Eliza Samúdio era uma prostituta, atriz pornô, não sei ao certo, só sei que era uma "mulher da vida". E Bruno? Ah, o Bruno é um grande goleiro, tem que ser solto logo para poder voltar aos campos e defender todos os gols. 

Entendeu a diferença? 

Tem gente enxergando a popularidade e habilidade do Bruno com o futebol maior do que o direito de vida de Eliza. E tem gente que não vê maldade nisso. Não vê problema em querer que um assassino esteja nas ruas. A questão é que essas pessoas tem a dificuldade de enxergar o Bruno como tal coisa. 

Assassino é uma nomenclatura muito forte e, sem corpo, gera uma dificuldade de ser aceita. Some isso com a falta que o Bruno faz no futebol e você terá uma parcela das pessoas querendo sua liberdade. Deixar livre um homem que foi capaz de matar a mãe do próprio filho. Deixar livre um homem que foi capaz de acabar com a vida de uma jovem. E não, mesmo que tentem justificar, é algo sem justificativa. Não me interessa o passado de Eliza, não me interessa se ela deu o "golpe da barriga". Para ter um filho é necessário duas pessoas e o Bruno foi uma delas. Agora imagina como vai ser aterrorizante para essa criança crescer e descobrir, mais cedo ou mais tarde, que sua mãe foi assassinada pelo seu pai. E não só o filho deles, mas como qualquer criança vendo um crime desses sair impune. Alguns anos na cadeia não vão apagar o que esse homem fez. Alguns anos na cadeia não vão diminuir a dor de uma família que perdeu a filha, de um filho que perdeu a mãe. Alguns anos na cadeia não vão anular o crime que o Bruno cometeu. 

Aqui no Brasil o crime é banalizado. Uma vida não custa nada e um assassino raramente paga pelo crime. Melhor, se me permitem, um assassino nunca paga pelo crime. O que seria necessário uma pessoa que mata a outra sofrer para pagar por isso? Eu não acredito em pena de morte, não pelos direitos humanos ou coisa parecida, mas por que matar esse assassino é impedir que ele cumpra sua sentença. Eu acredito na prisão perpétua, pois ali sim o assassino vai ter um bom tempo para pensar no que fez e rever seus conceitos. E não, eu nunca perdoaria um assassino. 

Só que, infelizmente, não é isso que acontece no Brasil. Aqui, depois de passar vários anos esperando o julgamento, depois de recorrer de todas as formas, esse criminoso não passará mais do que 40 anos na prisão. Temos então que somar o "bom comportamento" e ele conseguirá um regime semi-aberto. Bom comportamento? Como um assassino terá bom comportamento? "Ah, ele não matou nenhum coleguinha dentro da cadeia, já pode viver novamente em sociedade". Não existe bom comportamento para quem já matou da maneira que Bruno matou. 

Então, se vocês se vêem no direito de querer que o Bruno ganhe liberdade para voltar aos gramados e jogar o futebol, eu tenho o direito de não querer que um assassino faça parte do maior entretenimento brasileiro. Eu não quero um assassino nos campos de futebol. Eu não quero um assassino livre. Não quero mais um motivo para ter medo de andar nas ruas. Eu quero acreditar que a justiça, às vezes, funciona. E se não acontece nos casos pequenos, aqui do meu bairro ou do seu, onde um marido mata a esposa e aparece esse tal de "crime passional", que pelo menos aconteça nesses crimes que são estuprados pela mídia. Que pelo menos esses crimes que passam na televisão sejam levados à justiça. 

"Bruno chorou no primeiro dia de julgamento"
Eis a manchete do jornal da noite. 

Bruno chorou. Bruno está arrependido. Bruno quer voltar a jogar futebol.
Eu só acho que a Eliza também queria muitas coisas e uma delas era sobreviver.